quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entrevista com Beatriz Sallet

A jornalista Beatriz Sallet é mestre e doutoranda em Comunicação pela Unisinos, onde hoje é professora de fotografia. Ela dividiu com nós um pouco da sua experiência de mais de 20 anos registrando seu olhar sobre o mundo.

OA - Quando começou a paixão por fotografia?
Beatriz - Quando cursava Jornalismo na Unisinos, com a primeira
disciplina do currículo que se chamava Introdução à Fotografia. Lembro
que saia pelo campus para fazer fotos em preto e branco, depois
revelávamos e copiávamos no laboratório, aquilo tudo era muito
mágico. Estávamos num tempo analógico da Fotografia. Depois quando
iniciei trabalhando em redação de jornal, logo quis passar do texto para
fotojornalismo, mas tive que esperar pela oportunidade  (isto foi no
início de 1990, e não havia ainda a cultura de mulheres na editoria
de Fotografia).


OA - Onde foi sua primeira experiência como repórter fotográfica?
Beatriz - Foi free lancer para jornais e revistas em Porto Alegre, em
1993. Ali já havia feito outros cursos de Fotografia e até montado um
laboratório p&b em casa. Saia pelas ruas de Porto Alegre e fotografava
muito, depois voltava para casa e passava o resto do dia no laboratório,
revelando e copiando fotos. 
Meu primeiro emprego mesmo como repórter-fotográfica foi no Jornal Vale
dos Sinos, em São Leopoldo, onde também tive muito contato com o
laboratório e de onde trago muitas e boas recordações das pautas
vivenciadas com os colegas. Éramos, na fotografia um grupo de cinco
fotógrafos, eu a única mulher.


OA - Qual foi a pauta mais difícil para você?
Beatriz -Talvez uma das mais difíceis foi quando morreu uma família
inteira num acidente e tive que chegar na casa dos´parentes, eu e a
repórter de texto, pra pedir as fotos dos documentos das vítimas - e
tinha umas quatro crianças entre os mortos. Era necessário naquela
pauta, além de cobrir o velório, fazer as reproduções das fotos das
vítimas. Então você chegar em uma casa de desconhecidos, gente que
está abalada, e pedir as foto para reproduzir é algo que requer muito
cuidado.

Esta pauta fiz pela Zero Hora, como free lancer. Outra pauta, também
pela Zero, foi quando tive que voar em um avião caseiro fabricado pelos
aviadores do aeroclube de São Leopoldo. Lembro que a repórter Géssica
Trindade, a quem eu acompanhava na pauta, ficou em terra olhando eu subir
naquele aviãozinho que seria pilotado por um aposentado. Eu fui com
bastante coragem (na hora do trabalho sempre temos uma coragem louca) e
fiz as fotos de outro aviãozinho caseiro que sobrevoava os céus do Vale
dos Sinos. Lembro que quando desci do tal avião, foi que percebi o medo
que eu estava, minhas pernas tremiam muito. A recompensa foi a foto da
contracapa da Zero dominical, esta é a verdadeira recompensa, além do
que fica na memória para contar as histórias.


OA - O surgimento da máquina digital revolucionou o trabalho do repórter fotográfico, conta um pouco como foi esse período de transição?
Beatriz- Foi uma verdadeira revolução e que ainda repercute, até porque
as grandes mudanças levam tempo para acontecer em todas as suas
consequências. Quando as câmeras digitais apareceram nas redações dos
jornais impressos diários, eu era repórter-fotográfica do jornal Vale
dos Sinos, por volta de 1997/98, então nós, então fotógrafos analógicos,
olhamos aquilo com bastante desconfiança. A desconfiança era tanta que
os jornais convencionaram dar  crédito do fotógrafo/fotografia digital,
pois os profissionais não aceiraram de cara a foto digital como
fotografia. Saíamos para as pautas com as duas câmeras, a analógica e a
digital, nos sentíamos muito mais seguros com a analógica porque sabíamos
que a foto estava garantida no suporte fílmico. Desconfiávamos muito do
digital. 

Hoje a coisa inverteu para os fotógrafos da geração digital. Se precisam
fotografar analogicamente então não se sentem seguros porque não vêem na
hora o resultado. Mas para o jornalismo foi bastante importante 
ingresso do digital como um todo, e da fotografia em específico, agora o
jornalismo on line está junto ou até antes da TV muitas vezes, e a foto
que fazemos de um jogo de futebol é transmitida segundos depois de sua
captura para as redações e webjornais.  


OA - Tu tens ainda o laboratório em casa? Continua usando?
Beatriz - Não. O laboratório de casa foi substituído pelos laboratórios das
redações dos jornais impressos para os quais trabalhei/colaborei.
Hoje só na Universidade.


OA - Na tua opinião, qual a principal característica que o repórter fotográfico tem que ter?
Beatriz - Um repórter-fotográfico precisa ter faro jornalístico. Deve ser
investigativo sempre. Deve desconfiar das situações e buscar cercar a
pauta de todos os lados. Pensar a imagem para a reportagem é também
inaugurar a pauta, protagonizar a pauta. Muitas pautas são fruto desta
perspicácia. Muitas pautas são agendadas pelo próprio fotógrafo que traz
uma boa foto da rua e coloca os repórteres da redação para correr.


OA - Qual fotógrafo gaúcho tu mais gosta? E fora do Estado?
Beatriz - Temos ótimos fotógrafos aqui no Estado e no Brasil inteiro. Aqui n
Estado, sempre gostei do trabalho do Silvio Ávila, do Julio Cordeiro,
Ricardo Wöffembutel e de tantos outros. Fora do Estado,  Evandro
Teixeira, Márcia Foletto e...tantos outros.


OA - Que câmera tu indica para quem está começando e por quê?
Beatriz - A princípio, nestes tempos em que são tantas as marcas/tipos de câmeras,
indico qualquer uma que a pessoa tenha. Que procure fotografar com
sensibilidade e tirar o melhor proveito da câmera que tenha. E se for
para fotografar profissionalmente, então pensar numa Nikon, Cânon ou
Leica. 
 



OA - Qual é a tua foto mais marcante e por quê?  
Beatriz - Tenho aqui uma que foi bem bacana pelo momento, que foi o retorno dos
soldados do Haiti, na primeira Missão de Paz, quando chegaram na base
aérea de Canoas e as famílias aguardavam pelo reencontro, então foi
uma reportagem bem bacana que gostei de acompanhar, até no dia seguinte
visitamos novamente algumas famílias e fotografei novamente esta família
que aparece na foto e que é aqui de São Leopoldo. Este material cobri pela Zero Hora.





Por Emilene Lopes

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